top of page

Métricas que governam: da sociologia digital à avaliação responsável

por Nivaldo Calixto Ribeiro*


A digitalização da comunicação científica reconfigurou não apenas como produzimos e circulamos conhecimento, mas também como o avaliamos. Nesse cenário, a altmetria, o monitoramento de atenção e engajamento em plataformas digitais como Twitter/X, blogs, notícias, Wikipedia e gerenciadores de referência, surge como promessa de ampliar o olhar para além das citações tradicionais. Mas, à luz da Sociologia Digital, é preciso perguntar: quem mede, com quais dados, e a favor de quais propósitos? (Kitchin, 2014; Marres, 2017; Rogers, 2013).

ree

Do ponto de vista sociológico, dados altmétricos são artefatos sociotécnicos: dependem de infraestruturas privadas, coleta automatizada, algoritmos opacos e sistemas de plataformas que não são neutras (Couldry; Mejias, 2019). A consequência é conhecida por quem atua no Brasil: uma nova camada de colonialidade algorítmica sobre o já desigual mercado global de atenção científica (Silveira et al.; 2025, Alperin, 2015; Vessuri; Guédon; Cetto, 2014).


Mas isso não implica descartar a altmetria. Pelo contrário: quando situada em princípios de avaliação responsável, ela pode complementar indicadores tradicionais, qualificar debates públicos e visibilizar impactos sociais, educacionais e midiáticos da pesquisa, especialmente em agendas locais e de interesse público. É exatamente o que defendem documentos como o Leiden Manifesto e a DORA, que recomendam usar métricas como suporte (não como fim), contextualizar indicadores, transparência nos dados e reconhecimento da diversidade de resultados (Hicks et al., 2015; DORA, 2013). A Recomendação da UNESCO sobre Ciência Aberta (2021) vai na mesma direção ao associar abertura, equidade e pluralidade de ecossistemas de comunicação (UNESCO, 2021).


No ecossistema brasileiro e latino-americano, esse debate toca pontos sensíveis. A região consolidou infraestruturas públicas e comunitárias (v.g., redes de periódicos de acesso aberto, modelos diamante), mas segue avaliada por métricas desenhadas em outros contextos, com barreiras linguísticas e incentivos desalinhados às missões universitárias de ensino, pesquisa e extensão (Alperin, 2015; Vessuri; Guédon; Cetto, 2014). Se a altmetria for usada sem crítica, pode reproduzir o produtivismo sob nova roupagem, monetizando atenção e premiando visibilidade acima de relevância social. Se, ao contrário, for incorporada como evidência complementar em ecossistemas abertos, plurais e éticos, pode ampliar o reconhecimento de impactos sociais, educacionais, culturais e de política pública que frequentemente escapam aos índices tradicionais.


Em síntese, a Sociologia Digital ensina que dados não falam sozinhos: precisam ser lidos em contexto, com atenção a poderes, plataformas e políticas (Couldry; Mejias, 2019). A altmetria pode ser parte da solução, desde que guiada por ciência aberta, avaliação responsável e compromisso público com a diversidade epistemológica. As métricas são instrumentos; propósitos são escolhas.


REFERÊNCIAS


ALPERIN, Juan Pablo. The public impact of Latin America’s Approach to open access. 2015. 146p. Tese (Doutorado) - Stanford University, 2015.


BEER, David. Metric power. London: Palgrave, 2017.


COULDRY, Nick; MEJIAS, Ulises A. The costs of connection: how data colonizes human life and appropriates it for capitalism. Stanford: Stanford University Press, 2019.


DORA. San Francisco Declaration on Research Assessment. San Francisco, 2013. Disponível em: https://sfdora.org/. Acesso em: 18 out. 2025.


GORRAIZ, Juan et al. Altmetrics: state of the art and a look into the future. Journal of Information Science, London, v. 42, n. 2, 2016. DOI: 10.5772/intechopen.76874. Disponível em: https://www.intechopen.com/chapters/61110. Acesso em? 18 out. 2025.


HAUSTEIN, Stefanie. Grand challenges in altmetrics: heterogeneity, data quality and dependencies. Scientometrics, Dordrecht, v. 108, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11192-016-1910-9. Acesso em: 18 out. 2025.


HICKS, Diana et al. The Leiden Manifesto for Research Metrics. Nature, Londres, v. 520, p. 429–431, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1038/520429a. Acesso em: 18 out. 2025.


KITCHIN, Rob. The data revolution: big data, open data, data infrastructures & their Consequences. London: Sage, 2014.


MARRES, Noortje. Digital sociology: the reinvention of social research. Cambridge: Polity Press, 2017.


PRIEM, Jason et al. Altmetrics: a manifesto. 2010. Disponível em: http://altmetrics.org/manifesto/. Acesso em: 18 out. 2025.


ROGERS, Richard. Digital methods. Cambridge, MA: MIT Press, 2013.


SILVEIRA, Lucia da et al. Ameaça velada ao acesso aberto diamante: quando os indicadores se tornam armas de exclusão. Ciência da Informação Express, Lavras, MG, v. 6, p. 1–12, 2025. DOI: 10.60144/v6i.2025.152. Disponível em: https://cienciadainformacaoexpress.ufla.br/index.php/revista/article/view/152. Acesso em: 18 out. 2025.


UNESCO. UNESCO Recommendation on Open Science. Paris: UNESCO, 2021.


VESSURI, Hebe; GUÉDON, Jean-Claude; CETTO, Ana María. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, London, v. 62, n. 5, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1177/00113921135128. Acesso em: 18 out. 2025.




*Texto elaborado com apoio de Large Language Model, ChatGPT.

 
 
 

Comentários


bottom of page